Desde a infância que o desenho é parte importante da compreensão de mundo de Thainan.
Ele projeta e estuda os trabalhos antes de transpô-los para o suporte. Entende a obra como o resultado de pesquisa extensa e de compreensão total de uma ideia. Tudo é lapidado, à exaustão, em direção ao resultado, e não como simples concretização de um impulso criativo.
Focado em seu trabalho pessoal, ele revisitou seus processos e encontrou o norte por meio da compreensão de onde partia o gesto: da memória física e afetiva da infância na rua sem saída em Nova Iguaçu, onde subia em árvores, empinava pipas e jogava bola de gude. Começou a observar melhor seus trajetos e o mobiliário urbano. Em seus caminhos, passou a desenhar recortes desses objetos, fora de seus contextos habituais. Fragmentos que representam lapsos temporais, minúsculos detalhes, gestos, movimentos e objetos dentro de vazios, que representam os vazios que nos preenchem, e que preenchemos com nossas próprias memórias e vivências. Esses trabalhos deixam pistas muito particulares para as pessoas, permitindo-lhes sobrepor suas individualidades, recriando suas próprias situações… Registros assemelhados a fotos instantâneas, de momentos anônimos, atemporais e descontextualizados, que se desdobram para os desenhos de crianças e de nadadoras.
A série das crianças tem origem nas histórias entreouvidas no lar, em variadas narrativas dos avôs, dos pais e daquelas a respeito dele mesmo. Na investigação e recriação das histórias, no terreno da memória, ao transpor a cena para a tela, ele representa um único elemento dessa situação lembrada, isolando-o do acontecido, e esse é o ponto vital da obra. As figuras não são completamente preenchidas. Na maioria das vezes, o entorno não existe ou é meio borrado, quase falta alguma coisa. Como se fossem pequenos momentos de lembrança, quando recordamos o instante de algum acontecimento, ainda que tudo em volta esteja meio turvo.
Na série das nadadoras, Thainan Castro assume a postura de um observador, no limite do fôlego, para nos apresentar a imagem de corpos que voam, flutuam, pairam poeticamente no oceano do inconsciente coletivo. Braços e pernas que ferem a densidade líquida para sustentar as cabeças fora da água, no ar. Esses trabalhos são como reverberações da fisioterapia na água, quando o artista se viu envolto por um entorno tão cheio, que parecia um grande vazio, que o sustentava quando ele mesmo não podia. Há, portanto, a necessidade de mergulhar para buscar algum entendimento dentro desses vazios, que são profundos e cheios de elementos e de camadas. São, também, como uma folha em branco: é como se nada houvesse ali, porém, simultaneamente, existe a possibilidade de muitos acontecimentos.
Trechos do texto escrito pela crítica e curadora Christiane Laclau.